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19/03/2021ㅤ Publicado às 18:52

Presidente do CAU/DF, Mônica Blanco, em evento virtual. Imagem: reprodução da TV Câmara

A presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Distrito Federal, arq. urb. Mônica Blanco, participa, na tarde desta sexta-feira (19/3), do evento virtual promovido pelo CAU/BR, em parceria com a Secretaria da Mulher da Câmara dos Deputados e apoio do CAU/DF. “Mulheres da casa à cidade – Direitos e cidadania em Tempos de Pandemia” foi o tema principal em debate.

Em sua participação, a presidente Mônica destacou a maioridade das mulheres no exercício da profissão de Arquitetura e Urbanismo no Distrito Federal, bem como os preconceitos e obstáculos enfrentados no dia-a-dia laboral, tais como menores salários, falta de reconhecimento profissional. Sobre os direitos das mulheres à cidade, Mônica lembrou que os espaços urbanos, por anos, foram projetados por homens e, ainda hoje, continuam atuando como vetores que direcionam as mulheres a situações de opressão, assédios e violências sexuais.

“É preciso valorizar a mulher nas discussões sobre mobilidade urbana, na construção de espaços que tragam uma perspectiva feminina de múltiplos olhares, ou seja, menos ameaçadora e mais agregadora; que lhes dê a sensação de pertencimento ao coletivo, capaz de trazer segurança e, ao mesmo tempo, seja transformadora de sua participação na sociedade. Como arquiteta e urbanista que sou, acredito em espaços favoráveis à circulação das mulheres; em discussões públicas onde possamos expressar a nossa lógica feminina sem retaliações, bem como nossa visão de arquitetura inclusiva, onde não há dominadores/dominados ou opressores/oprimidos. Mas que seja funcional para todos sem distinção: homens, mulheres, crianças, transgêneros, LGBTQ+, indígenas, imigrantes e demais seguimentos aqui não citados”, afirmou em sua Mônica Blanco durante a videoconferência.

Imagem: reprodução da TV Câmara

Assista ao evento da TV Câmara, AQUI.

Leia o depoimento completo da presidente do CAU/DF, arq.urb. Mônica Blanco, sobre os diretos da mulher à casa e à cidade:

Meu nome é Mônica Blanco. Estou presidente no Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Distrito Federal até 2023 e sou a primeira mulher a exercer essa função na história do CAU distrital. Nós, mulheres, somos maioria no exercício da profissão no Distrito Federal, com 3.993 mulheres ativas – cenário que se repete no resto do país. Mas, ainda que assim seja, enfrentamos preconceitos e outros obstáculos nas nossas atividades profissionais, como é o caso da maioria das profissões, acredito.

Que entraves são estes? Salários menores que os pagos aos homens pelos mais diferentes e absurdos motivos que vão desde o fato de que, por sermos mulheres, podemos engravidar e, portanto, por alguns meses nossa produção cai ou se anula. Ou tão grave quando, pelo simples fato de sermos mulheres pretas e/ou gordas, e/ou magras e/ou feias e/ou bonitas etc. Estes mesmos motivos também são usados muito “sutilmente” na hora das promoções, por pouco reconhecimento na produção laboral, situações vividas tanto fora quanto dentro de casa, quando nossos salários são só para “os alfinetes”.

Temos ainda a falta de pertencimento ao espaço que ocupamos em nossa sociedade, em nossas cidades quando, por exemplo, a cor de nossa pele é determinante. Uma mulher negra, de determinada faixa social e idade, por exemplo, tem uma percepção da cidade totalmente diferente do que uma mulher branca na mesma faixa social e idade. Provavelmente, isto se deve ao fato de que, segundo conta a história, as mulheres não terem, lá no início, participado da construção das cidades, da elaboração de políticas e diretrizes do planejamento urbano e territorial ou, por anos, ter tido seu trabalho nessa área desvalorizado ou ofuscado.

O que se sabe é que os espaços que ocupamos hoje foram por anos pensados por homens para os homens; para o seu uso e sua circulação. Para nós, mulheres, são espaços extremamente conservadores que tiram a nossa liberdade de ir e vir e que ameaçam nossa segurança.

Faço aqui um parêntese para citar Lia Antunes em seu artigo Questões de Gênero em Arquitetura: Histórias, Espaços e Experiências Profissionais e Arquitetônicas:

[…] A história da arquitetura prova a constante relação, simbólica e metafórica, do corpo da mulher com a forma e a imagética da arquitetura. É legítimo que as mulheres possam mostrar algum receio em integrar um universo disciplinar que, simbolicamente, é liderado pelo homem e que foi formulado tantas vezes por reações conservadoras e preconceituosas quanto às questões de gênero, por parte de clientes, construtores, e mesmo de colegas.

Assim, o desenho urbano ainda se apresenta como vetor que nos direciona a situações de opressão, assédios e violências sexuais. Basta perguntar qual mulher hoje passaria por uma passarela subterrânea para atravessar uma avenida movimentada ou ficaria em uma estação de trem à noite e desacompanhada?

Assim, é preciso valorizar a mulher nas discussões sobre mobilidade urbana, na construção de espaços que tragam uma perspectiva feminina de múltiplos olhares, ou seja, menos ameaçadora e mais agregadora. Que lhes dê a sensação de pertencimento ao coletivo, que traga segurança e, ao mesmo tempo, seja transformadora de sua participação na sociedade.

Eu, como arquiteta e urbanista que sou, acredito em espaços favoráveis à circulação das mulheres; em discussões públicas onde possamos expressar a nossa lógica feminina sem retaliações, bem como nossa visão de arquitetura inclusiva, onde não há dominadores/dominados ou opressores/oprimidos. Mas que seja funcional para todos sem distinção: homens, mulheres, crianças, transgêneros, LGBTQ+, indígenas, imigrantes e demais segmentos aqui não citados.

Não é à toa que a missão do CAU, estabelecida em seu Mapa Estratégico de 2013 e vigente até 2023, seja: Promover a Arquitetura e o Urbanismo para Todos. Temos buscado realizar ações que permitam o estudo e o debate das questões de gênero entre arquitetos, arquitetas e urbanistas, com autoridades e a comunidade locais. Desde 2018, o CAU/DF tem uma Comissão de Equidade de Gênero e Inclusão, que nos permite construir essa nova visão da arquitetura com identidade, que atenda às demandas urgentes de gêneros, raças, classes sociais, e que seja capaz de lidar com as diferenças e as multiplicidades. Buscamos por cidades mais democráticas, contributivas ao desenvolvimento social e que tragam vivências menos opressivas e mais permissivas à ocupação dos espaços e territórios.

Encerro, desejando a todos(as) um excelente evento e agradeço a oportunidade que nos foi dada de podermos discutir essa questão tão importante nesta Casa, que é do povo.

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