Melhorias no transporte público coletivo do DF estão em debate em seminário organizado pelo CAU/DF, IAB-DF e Instituto MDT

Arquitetos e urbanistas, pesquisadores de universidades, representantes do Ministério Público, do Tribunal de Contas, dos trabalhadores do setor de transportes, de empresas operadoras e dos governos Federal, do Distrito Federal e de Goiás estão reunidos com a sociedade civil para discutirem sobre os rumos da mobilidade urbana. Todos participam do evento “O Transporte Público Coletivo no DF e Entorno”, que acontece quarta e quinta-feira (4 e 5/9), no auditório do IESB – Campus Asa Norte (SGAN 609), das 9h às 17h.

A iniciativa – organizada e promovida pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Distrito Federal (CAU/DF), pelo Instituto dos Arquitetos do Brasil Departamento Distrito Federal (IAB-DF) e pelo Instituto MDT – traz especialistas locais, do Brasil e da Europa para, juntos, buscarem soluções ao setor, que já apresenta sinais de falência no Distrito Federal. “Hoje, temos consciência de que o modo como as pessoas deslocam-se de suas casas até o trabalho e voltam de lá impacta ampla e profundamente na qualidade de vida delas. Este encontro é a oportunidade deste tema tão crucial ser debatido entre os atores diretamente envolvidos na discussão. Espera-se como resultado do evento o encaminhamento de medidas efetivas para a solução de deficiências persistentes no sistema brasileiro de transporte público coletivo e mobilidade urbana sustentável”, resumiu o presidente em exercício do CAU/DF, arq. urb. André Bello.

O presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil – Departamento Distrito Federal (IAB-DF), Célio Mélis, corrobora a opinião. “O evento será um momento de reflexão sobre tudo o que estamos vivenciando hoje”, resumiu o arquiteto e urbanista Célio Mélis.

Na abertura do Seminário, realizada nesta quarta-feira (4/9), estiveram presentes autoridades ligadas diretamente ao setor, que explicitaram as suas considerações acerca do tema, bem como anteciparam as discussões que irão ocorrer nos dois dias de atividades. “Que o transporte público no DF se torne de qualidade e que consigamos enfrentar uma cultura enraizada em Brasília, que é planejada para automóveis, mas já não comporta mais tantos veículos. Se não melhorarmos o transporte coletivo público, não teremos qualidade de vida no Distrito Federal”, antecipou o Diretor Nacional Executivo do Instituto MDT, Nazareno Stanislau Affonso.

Para o prefeito de Águas Lindas de Goiás, Hildo do Candango, a discussão sobre mobilidade tem que extrapolar as fronteiras do DF. “É importante saber que, quando se discute transporte em Brasília, não se pode esquecer do Entorno – uma região de suma importância para o desenvolvimento do DF, com mais de 1,5 milhão de habitantes que vem a Brasília todos os dias para trabalhar. O seminário veio em uma boa hora de discussão, nessa região que tanto precisa do DF e vice-versa”, afirmou o prefeito Hildo do Candango.

Não são apenas os trabalhadores que sofrem com a ausência de um transporte público coletivo adequado, que atenda a população em suas necessidades. O setor de indústrias local também amarga com um sistema deficiente. “A mobilidade é um dos principais entraves para o desenvolvimento da indústria no DF. Hoje, se gasta 40 minutos do Gama ao Plano, por exemplo, e 1h20 do Gama para Samambaia. Temos micro e pequenas empresas que estão tendo dificuldades na retenção e na capacitação de sua mão-de-obra. Por exemplo, o trabalhador poderia, ao final do seu expediente na indústria, fazer um curso de aprimoramento, mas não o faz por conta da baixa mobilidade. Precisamos buscar, junto aos legisladores, soluções que beneficiarão a todos”, destacou o conselheiro da Federação das Indústrias do DF (Fibra), Clístones Lívio Pedreira.

O deputado distrital Leandro Grass (Rede) esteve presente ao seminário e lembrou que o tema faz parte dos objetivos de desenvolvimento sustentável da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU), destacando as metas 9 (Indústria, Inovação e Infraestrutura) e 11 (Cidades e Comunidades Sustentáveis). “O desafio que temos estão relacionados ao nosso histórico; com o descuido no avanço das cidades que impactou diretamente em como as pessoas se deslocam. Mas, precisamos que a sociedade seja organizada e atuante. Temos que envolver os estudantes, a academia e a sociedade, o cidadão comum, o usuário na discussão desse tema”, avaliou o deputado Leandro.

O parlamentar ainda enfatizou sua preocupação com as privatizações, como a do metrô, e do transporte clandestino. “É preciso avaliarmos a importância do protagonismo do poder público na gestão da mobilidade. Se não tivermos o Estado presente, teremos menos fiscalização. Precisamos discutir a questão da pirataria e esse debate tem que ser feito também nos arredores e não apenas no centro das cidades”, afirmou o deputado Leandro Grass.

Além da importância de sensibilizar e envolver o poder público nas questões relacionadas ao transporte público, o Seminário propõe aproximar a academia dos debates sobre mobilidade urbana. A coordenadora do curso de Arquitetura e Urbanismo do IESB, arq. urb. Larissa de Aguiar Cayres, lembrou do importante papel dos arquitetos e urbanistas nessa mudança de concepção da população e da realidade do transporte no país. “São os arquitetos e urbanistas que pensam as cidades, planejam e projetam. Somos nós que iremos fazer a diferença, em parcerias, inclusive com o poder público, para desenvolver soluções”, afirmou Larissa Cayres.

Para o Secretário de Transporte e Mobilidade do Distrito Federal – SEMOB, Valter Casimiro, “toda discussão com arquitetos e a população é válida para identificar as melhorias e beneficiar a todos com um sistema de mobilidade eficiente”. Segundo Casimiro, o desafio de melhorar o sistema de transporte coletivo público passa, primeiramente, pelo reconhecimento de que é deficitário e precisa de uma atenção especial. “Nossa priorização é o transporte coletivo em razão do individual, com o aumento de faixas exclusivas, de vagões para o metrô e de veículos para o BRT, além de segurança e previsibilidade de horário para quem precisa do transporte para chegar ao seu destino no horário previamente determinado”, afirmou o secretário Valter Casimiro.

Experiências Europeias

O Ministro-Conselheiro português, Carlos Oliveira, em nome da delegação da União Europeia no Brasil, participou do Seminário “O Transporte Público Coletivo no DF e Entorno” nesta quarta-feira (4/9). Brevemente destacou a relevância do tema em discussão e disse que “tratar de mobilidade urbana requer atos públicos e privados, dos vários interlocutores e dos cidadãos”.

Segundo Carlos Oliveira, a União Europeia está muito focada em melhorar a qualidade de vida da população, tornando-a um atrativo, tendo a acessibilidade e a mobilidade urbana como vetores para o desenvolvimento econômico. “É o que acontece em Lisboa, uma cidade que tem a dimensão muito próxima do DF. Espero que essa troca de experiências aqui hoje, nos permita contribuir para esse debate”, finalizou o ministro-conselheiro.

O Seminário “O Transporte Público Coletivo no DF e Entorno” contou ainda com a participação da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), da Associação dos Municípios Adjacentes a Brasília (AMAB) e da Embaixada da Colômbia. O evento se encerra amanhã, com palestras e uma Plenária, com a apresentação dos resultados do seminário.

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