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27/05/2020ㅤ Publicado às 16:11

Brasília acordou mais triste hoje com o falecimento de Italo Campofiorito nesta quarta-feira (27/5). O arquiteto se formou pela Universidade do Brasil, atual Unidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, e trabalhou na construção da Capital Federal em 1958, no escritório de Oscar Niemeyer. Era crítico de arte, tendo participado do International Council on Monuments and Sites (Icomos) e atuado na Associação Internacional de Crítica de Arte (AICA), bem como junto ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), onde assinou o tombamento de Brasília. Desde 1996, integrava o Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural do IPHAN/Ministério da Cultura.

Foi professor titular aposentado da Universidade de Brasília (UnB) e foi diretor executivo do Museu de Arte Contemporânea (MAC) de Niterói entre 1996 e 2004, quando passou a ser membro do Conselho Deliberativo. Nos dias atuais, atuava como membro do Conselho Municipal de Tombamento de Niterói.

O presidente do CAU/DF, arq. urb. Daniel Mangabeira, em artigo, presta uma homenagem ao arquiteto, cuja contribuição profissional para a construção da história de Brasília e do país é incontestável.

Artigo: Brasília sob os olhos de Ítalo

Fiel escudeiro de Oscar Niemeyer e de Lucio Costa na construção de Brasília, Ítalo Campofiorito teve papel fundamental na história de Brasília. Na época, uma ideia pessoal para uma legislação de preservação, “um texto simples e eficaz” como ele mesmo o descreveu, se transformou no Decreto Governamental que respaldou a inscrição de Brasília na Unesco como Monumento da Humanidade.

As normas legais que elaborou (e que foram enviadas à Unesco) refletiam preocupações suas à época, mas que ainda são bastante atuais: como preservar a Capital Federal sem a imobilizar fisicamente? Como atender à Unesco e salvaguardar a cidade modernista, permitindo que “com a exceção do resguardo de alguns raros prédios excepcionais, as edificações se modifiquem e vivam a sua vida e contingência urbanas através do incessante passar do tempo, do tempo com que se nutre a natureza cumulativa, cultural das cidades?”.

Era preciso achar as referências ou pelo menos uma base para garantir o essencial da concepção urbanística de Brasília. Ítalo Campofiorito as encontrou, junto a Lucio Costa, nas quatro escalas: monumental, residencial, gregária e bucólica. Em um artigo publicado na Revista do IPHAN, explicou cada uma delas, sempre fazendo analogias a arquitetura e ao urbanismo de Paris. Ítalo estudou muitos anos na França e na Inglaterra e os espaços amplos das cidades europeias, principalmente os da capital francesa, o fizeram compará-las com a modernidade da arquitetura e do urbanismo a que propunha Brasília. Para justificar a escala monumental configurada no Eixo Monumental, Ítalo o comparou aos dois quilômetros entre o arco do Carrousel diante do Louvre e Rond-Point da avenida Champs Elysée. Já na escala residencial, os seis andares dos edifícios remetiam às suas lembranças das edificações parisienses.

Analogias a parte, Ítalo Campofiorito foi um arquiteto visionário, que enxergava a utopia como a “vontade de ficar mudando o mundo até o ideal, sendo, tanto a utopia quanto a modernidade, o progresso”. E foi a utopia que levou o “terceiro mundo do sul” (como se referiu o nosso país) a construir a mais importante modernista. “Tudo se passou, afinal, como se aonde a ciência, tecnologia e o desenvolvimento econômico são puro sonho, nada parecesse mais possível, nada foi mais natural do que a utopia.”

Finalizo essa reflexão compartilhando um desejo de Ítalo Campofiorito da década de 90, mas que ainda se mostra bastante atual: “Desejo que a nossa recente legislação possa manter em Brasília a memória de uma ideia, enquanto a História realimenta a realidade. Continue com a sua trajetória, agora, em outras escalas!”

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