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15/12/2014ㅤ Publicado às 20:01

O arquiteto e urbanista Antônio Danilo Morais Barbosa (foto) tem a resposta: “o Plano Diretor de Sinalização do Distrito Federal tem sido sistematicamente desrespeitado e consequentemente comprometido”. A afirmação categórica é feita pelo coordenador-geral do projeto original de sinalização concebido em 1975, desenvolvido no ano seguinte e implantado nos anos de 1977 e 1978 e instituído oficialmente pelo Governador do Distrito Federal pelo Decreto 19.372 de 29 de junho de 1998. Desprovido de elementos supérfluos, com desenhos extremamente simples tanto dos suportes como do sistema gráfico, o Sistema de Informações criado vem cumprindo o seu papel de informar o usuário – motoristas e pedestres – de maneira clara e objetiva, e sem agredir a paisagem. No entanto, não é isso o que tem acontecido.

 “O decreto instituiu o projeto original. Todos os desenhos e as diagramações das placas estão de poder da Secretaria de Estado de Transportes, que possui uma equipe própria de profissionais para confeccionar as placas. Bastaria eles aplicarem o que já está definido nos materiais que fabricam. No entanto, falta critérios nessas implantações, principalmente na sinalização das superquadras”, afirma o arquiteto e urbanista.  

Danilo é o único da equipe oficial de coordenação, que ainda faz parte do quadro de servidores do Governo do Distrito Federal, atuando, hoje, como arquiteto e urbanista na Secretaria de Estado de Habitação Regularização e Desenvolvimento Urbano – Sedhab. Segundo ele, o critério estabelecido desde o início foi o de exclusão, ou seja, caso o condutor de veículo ou o pedestre não encontre a informação que procura (a letra de um bloco, por exemplo), ele segue em frente até achar. “Se você tem uma seta a esquerda descrita na placa, você indica o que está à sua esquerda. Se ao passar pela placa e você não ver a letra do bloco que você procura, você segue em frente com o carro ou a pé até a encontrar. O que acontece hoje em dia é que estão colocando em uma placa todas as letras dos blocos das quadras. Estão gastando mais dinheiro com informações desnecessárias”. Esse é um dos problemas apontados pelo arquiteto Antônio Danilo.

A diagramação original das placas do Plano Piloto também está comprometida. A maioria está deturpada, com fontes diferentes do projeto original e com acréscimo de letras, como já foi citado. “Existe ainda o uso incorreto de caixa alta e baixa. Em outros casos, as letras estão muito juntas, condensadas, impedindo a boa leitura, principalmente com o reflexo dos faróis a noite. Algumas placas também estão em locais desnecessários ou possuem um volume de informações que não precisariam. Ou seja, é a falta de observar o projeto original por quem confecciona o material”, critica Antônio Danilo.

Esses e outros problemas não são recentes. Antônio Danilo tem insistido, há anos, com a Secretaria de Estado de Transportes do Distrito Federal que observe as regras de confecção da sinalização de Brasília, mas o órgão não tem levado em consideração as suas reclamações. “Vale lembrar que cabe à Secretaria fabricar as placas e implantá-las nos locais definidos e não desenvolver um projeto e fazer as intervenções que estão sendo feitas”, questiona Antônio Danilo.

Por esse motivo, o arquiteto e urbanista resolveu denunciar ao Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Distrito Federal – CAU/DF para que, juntos, possam tomar providências que contribuam para que o projeto original de sinalização da cidade – a qual completou 27 anos de tombamento em dezembro – seja respeitado. “Há muito tempo não existe na Secretaria de Transportes um arquiteto responsável pela avaliação dos projetos de sinalização. Falta um orientador nesse sentido, capaz de ver os erros na fabricação das placas e que as reponham.  Hoje, a pessoa tem um computador na mão e acha que pode ser projetista”, critica Antônio Danilo. E complementa: “à medida que você não tem uma resposta aos seus questionamentos pelo órgão público responsável, você fica preocupado com os rumos e a dimensão que isso possa tomar”.

A questão, de acordo com Antônio Danilo, é preocupante e até compromete a segurança, principalmente, de motoristas. “Existem placas que são perigosas, em que a pessoa tem que reduzir a velocidade do seu veículo para poder ler o que está escrito nas placas. Essa manobra pode provocar acidentes em uma via movimentada. Nos Lagos Sul e Norte, isso é muito comum ocorrer”, exemplifica.

Há mais de 40 anos atuando na projeção de sinalização

Em entrevista à Assessoria de Comunicação do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Distrito Federal – CAU/DF, o arquiteto e urbanista Antônio Danilo Morais Barbosa, fez um levantamento dos principais problemas encontrados na sinalização do Distrito Federal. O material foi entregue ao CAU/DF na íntegra e está disponível para download (clique aqui). Veja alguns casos destacados pelo profissional:

Copa do Mundo – Visitantes emoradores da Capital Federal puderam presenciar, na época da realização da Copa do Mundo de Futebol, em Brasília, no último mês de julho, a implantação de novas placas turísticas, indicativas dos principais pontos de visitação locais. A medida foi uma imposição da Fifa, organizadora do evento, ao Conselho Nacional de Trânsito, à época. No entanto, já fazem mais de seis meses de realização das competições esportivas e as placas ainda continuam instaladas pela cidade. Tal fato tem sido motivo de reclamação do arquiteto e urbanista Antônio Danilo Morais Barbosa. “Existe uma resolução do Contran que previa a retirada dessas placas até o dia 30 de outubro. Já estamos em dezembro e nada foi feito. Existe uma sobreposição de informações, o que tem gerado uma imensa poluição visual na cidade”, denuncia.

Sinalização turística – Ao contrário do que a maioria da população brasiliense pensa, as placas de sinalização de Brasília não são tombadas, como é o conjunto arquitetônico e urbanístico da Capital Federal. A sinalização turística, por exemplo, tem sido atualizada de acordo com as demandas do Ministério do Turismo. As mais recentes foram as adaptações das placas para dois idiomas – português e inglês. Algumas também receberam novo leiaute para se tornarem interpretativas, com a inserção de mapas que contam a história dos espaços de visitação de turistas.

Setor de Clubes e de Embaixadas – As placas de endereçamento que se encontram nos Setores de Clubes Sul e Norte, bem como no Setor de Embaixadas também apresentam problemas na sua diagramação. São erros grosseiros, que comprometem a estética e a fluidez na leitura de motoristas e pedestres. “Alguns clubes, como o Iate, fizeram alterações que não comprometeram a originalidade do projeto. Mas, existem casos grosseiros. Os clubes e embaixadas alegam que a população não vê a diferença, os erros ao usarem a dimensão e a fonte de letras incorretos, que fogem ao projeto original. Aos poucos, essas pequenas intervenções vão comprometendo o todo”, alega Antônio Danilo.

Estabelecimento comerciais – Restaurantes,casas noturnas, lojas de materiais de construção, entre outros estabelecimentos comerciais estão utilizando placas de sinalização para identificar seus negócios. Eles tentam seguir o padrão oficial previsto no projeto original de sinalização, mas pecam pelo uso indevido. “Se você tem um empreendimento comercial, o correto é sinalizar para o endereço do local e não usar o nome do estabelecimento para sinalizá-lo. Cabe ao Governo levar aos seus usuários aos endereços, e não aos particulares. Se em determinados setores faltam endereçamento, o Governo tem a obrigação de providenciar. Agora, imagina se toda clínica médica do Setor Hospitalar resolvesse botar as suas placas?”, questiona Antônio Danilo.

Reconhecimento Internacional

O projeto original de sinalização urbana, implantado em Brasília na década de 70, até hoje é reverenciado por arquitetos, urbanistas e, por que não, pela sociedade civil. A afirmação é tão verdadeira que o Museu de Arte de Nova Iorque (MOMA), nos Estados Unidos, abrigou os modelos em seu acervo.

Em breve, as placas deverão ser apresentadas aos norte-americanos e demais visitantes em uma exposição sobre a cultura brasileira. “Eu trabalho com isso há mais de 40 anos e se a sinalização urbana fosse ruim não teria sido reconhecida internacionalmente. É um projeto que se integra à Brasília”, finalizou Antônio Danilo.

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