Ícone SICCAU
SICCAU Serviços Online

19/03/2018ㅤ Publicado às 12:40

Como resolver o problema de 11 famílias que se recusavam a sair das margens estreitas de uma área em processo de reurbanização? Para solucionar a questão, a arquiteta e urbanista Fabrícia Zulin elaborou o projeto de 11 moradias compactas no setor Novo Habitat, em Diadema (SP) sob supervisão do arquiteto e urbanista Milton Nakamura, secretário de Habitação e Desenvolvimento Urbano da Prefeitura à época. “A área já possuía uma distribuição organizada de lotes, com exceção de um trecho que ficava bem na entrada do local, onde estavam 11 famílias que não aceitavam ir para conjuntos e que faziam questão de serem atendidas na área. Elas possuíam vínculos com aquele lugar e não viam razão para não continuar ali. Então surgiu o projeto das Casas Cubo”, relata a profissional.

O setor foi batizado pela própria população como Novo Habitat há quase 20 anos. No início da ocupação, eles se organizaram informalmente em uma associação de moradores e passaram a autoconstruir as moradias e a exigir melhorias do Poder Público. Anteriormente, no início dos anos 1990, a área abrigava uma cooperativa para compra comunitária de materiais de construção. “É um espaço complicado, tanto pelas exíguas dimensões como pela proximidade com uma indústria química vizinha”, afirma a arquiteta e urbanista.

A Prefeitura de Diadema iniciou o desadensamento do local em 2004, deslocando algumas famílias para outros loteamentos e conjuntos habitacionais. A área foi então fracionada em 88 lotes – e posteriormente em 120. Ao longo do tempo, uma parte da população ergueu moradias de alvenaria por conta própria. Por outro lado, 13 famílias de baixíssima renda se mantiveram em moradias precárias no local. Havia ainda outras 11 famílias, hoje proprietárias das casas cubo, que viviam em barracos às margens da área, em local não previsto para abrigar moradias.

Local no início da reurbanização, em 2014

Local no início da reurbanização, em 2004 (Foto: Acervo/Fabrícia Zulin)

Projeto
De acordo com Fabrícia Zulin, diante da situação dessas 11 famílias não havia alternativa senão reavaliar o projeto de reurbanização. A decisão levou em conta a criação de raízes das pessoas que ocupavam o local há tanto tempo. “A dúvida perdurava há anos: consolidar ou não consolidar aquele trecho? Era uma decisão que ninguém tomava e que ninguém se propunha a estudar”, relata.

Para incluir essas famílias na reurbanização, a arquiteta e urbanista propôs então a construção de casas cubo, menores dos que as demais em razão do espaço estreito disponível. “O lote resultante foi de 5,5 por 5,0 metros, no qual foi proposto um sobradinho com muita qualidade”. Os 11 sobrados geminados contam com cozinha americana e lavanderia, no térreo, e dois dormitórios e banheiro, no piso superior, além de uma pequena sacada. Cada casa está pintada com uma das cinco cores da paleta e no início e no fim do conjunto geminado há painéis de artistas locais.

Além das 11 casas cubo, outras 13 casas retangulares, mas com tipologia parecida, foram projetadas no setor para as demais famílias que não haviam conseguido construir as moradias em alvenaria. “No final, os projetos conseguiram atender a essas 24 famílias em condições anteriormente precárias”, conta Fabrícia Zulin.

Projeto arquitetônico das 11 casas cubo do setor Novo Habitat

Projeto arquitetônico das 11 casas cubo do setor Novo Habitat (Imagem: Fabrícia Zulin)

Construção

Local antes do início das obras, em 2010, e após a demolição dos barracos para o início das obras, em 2013: pouco espaço disponível

Rua Novo Habitat, esquina com  Avenida Ulisses Guimarães antes do início das obras, em 2010, e após a demolição dos barracos para o início das obras, em 2013: pouco espaço disponível (Fotos: Acervo/Fabrícia Zulin)

Elaborados em 2012, os projetos começaram a ser construídos em 2013 e foram finalmente inaugurados em janeiro de 2018. Durante esse tempo, os moradores receberam auxílio aluguel da Prefeitura para se mantiveram em outros lugares. Até a publicação desta reportagem, entretanto, eles ainda aguardavam trâmites burocráticos da Prefeitura para ocupar os imóveis.

“Confesso que toda vez que passava pela Avenida Ulisses Guimarães ficava olhando para ver se algo acontecia. Um dia vi as obras em andamento, trazendo grande alegria. E depois recebi uma mensagem entusiasmada de uma moradora dizendo: “Terminou! Venha visitar a minha casa!”. Foi uma das melhores visitas da minha vida”.

Inauguração das 24 moradias foi realizada pela prefeitura no dia 27 de janeiro de 2018, mas moradores ainda não receberam as chaves

Inauguração foi feita no dia 27 de janeiro de 2018, depois de 5 anos de obras (Foto: Mauro Pedroso/Prefeitura de Diadema)

Uma das famílias que vão receber as moradias é a de Edilene Firmino, que chegou para morar no Novo Habitat há 17 anos. “Somos seis pessoas. Eu, minha filha, três netos e meu genro. Todos estamos muito felizes com a casa nova. Está tudo perfeito”, disse à reportagem da Prefeitura. O local do sobrado dela é o mesmo no qual ela morava antes das obras. “Chovia muito dentro daquele nosso barraco, que era bem precário”, relembra. A moradora Francisca Joelma, também beneficiada com uma das casas, já recebeu as chaves. “Melhor coisa. Sair do aluguel e de um lugar que não é nosso e ir para a casa própria é um sonho”.

Apesar da comemoração, Fabrícia ressalta que a urbanização e diversos problemas do local não foram solucionados. “As demais casas, infelizmente a maioria, são autoconstruídas e não receberam assistência técnica para a elaboração de um projeto adequado. Apesar da Lei de Assistência Técnica existir, quase não há fundos de financiamento”.

Responsável Técnica

Joelma, uma das moradoras das novas casas cubo, com o filho e a arquiteta e urbanista Fabrícia Zulin na inauguração da obra

Francisca Joelma, uma das moradoras das novas casas cubo, com o filho e a arquiteta e urbanista Fabrícia Zulin na inauguração da obra (Foto: Fabrícia Zulin)

A arquiteta e urbanista Fabrícia Zulin, autora do projeto das casas cubo do setor Novo Habitat, deixou a Secretaria de Habitação e Desenvolvimento Urbano da Prefeitura de Diadema e trabalha atualmente em projetos de destaque na área de Arquitetura Social. Um deles, que contou com apoio do CAU/BR, foi o de 98 unidades habitacionais no loteamento Canhema II, também em Diadema, realizado em parceria com a colega Renata Coradin (saiba mais aqui). As duas são sócias do escritório Habitar Arquitetas Associadas.

Série Especial de Reportagens

Esta reportagem é a primeira de uma série especial de reportagens do CAU/BR e dos CAU/UF que vai mostrar o trabalho de arquitetos e urbanistas que, superando orçamentos reduzidos e unificando diferentes opiniões, conseguiram desenvolver moradias dignas e de qualidade para as famílias mais necessitadas.

Você trabalha com projetos de habitação social? Por favor envie um e-mail para habitacaosocial@caubr.gov.br. Não se esqueça de registrar os autores dos projetos, contatos das pessoas envolvidas (arquitetos, autoridades e beneficiários), com um breve descritivo do projeto e até três fotos/ilustrações. O CAU/BR e os CAU/UF entrarão em contato para produzir reportagens especiais sobre os projetos.

Saiba mais

Arquitetura Social: CAU/BR e CAU/UF destacam projetos inovadores


Por Emerson Fonseca Fraga, Jornalista do CAU/BR

DEIXE UM COMENTÁRIO

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Destaque

28/10/2024

28 de outubro: Dia do(a) Servidor(a) Público(a)

Destaque

25/10/2024

Nota Pública: CAU/DF se manifesta sobre retrofit no antigo edifício-sede do Banco do Brasil

Destaque

20/09/2024

CAU/DF fala sobre adensamento populacional em Águas Claras na série “Na sua cidade”

Destaque

19/06/2024

Na Mídia: CAU/DF defende “critérios claros” para aprovação do novo PPCUB