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06/08/2020ㅤ Publicado às 14:30




Arquitetas Inspiradoras é uma iniciativa da Comissão de Equidade de Gênero do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Distrito Federal (CAU/DF) que visa dar maior visibilidade e, consequentemente, valorizar a trajetória e as experiências profissionais de arquitetas e urbanistas negras e pardas que se destacam no cenário local e nacional. A ação é uma resposta local e imediata do CAU/DF aos dados obtidos pela Comissão de Equidade de Gênero do CAU/BR no 1º Diagnóstico de Gênero na Arquitetura e Urbanismo – publicado no último dia 31 de julho e que foi respondido on-line por 987 profissionais em todo o país, sendo 767 mulheres e 208 homens, no período de julho de 2019 a fevereiro de 2020 – e uma ação continuada do CAU/DF em comemoração ao Dia Internacional da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha.

O levantamento realizou um recorte racial relacionado a tipos de assédio (sexual e moral); violência sexual e discriminação de gênero no trabalho, revelando a desigualdade de gênero que caracteriza a sociedade brasileira e a urgência de se efetivar políticas e ações que primem pela equidade em todas as instâncias da Arquitetura e Urbanismo. Assim, Arquitetas Inspiradoras surge como uma reação da Comissão de Equidade de Gênero do CAU/DF às evidências apresentadas nesse Diagnóstico, buscando conferir maior visibilidade ao trabalho de arquitetas e urbanistas, mulheres, que lutam para ter seu trabalho e espaço reconhecidos pelo mercado de trabalho e a sociedade, independentemente da cor de suas peles.

1º Diagnóstico de Gênero na Arquitetura e Urbanismo no Brasil – APRESENTAÇÃO COMPLETA

1º Diagnóstico de Gênero na Arquitetura e Urbanismo no Brasil – QUESTIONÁRIO COMPLETO

1º Diagnóstico de Gênero na Arquitetura e Urbanismo no Brasil – BASE DE DADOS

ARQUITETAS INSPIRADORAS – THAÍS NARA

Imagens: Instagram

Thaís Nara é arquiteta e urbanista graduada em 2013 pela Universidade de Brasília (UnB), com um ano de estudo na FADU-UBA (Buenos Aires). Atualmente, cursa o MBA em “Gestão de Varejo e Mercado de Consumo” na USP. Em 2010, ainda estudante, foi coautora do projeto que recebeu menção honrosa no Concurso Habitação para Todos, categoria Edifício em altura. Sua primeira experiência profissional foi no escritório ATRIA, desenvolvendo o projeto executivo da embaixada do KWAIT em Brasília.

Em 2016, fundou o Studio Brava com a intenção de aliar arquitetura e design estratégico em projetos para empresas que buscam consolidar suas marcas, comunicar com as pessoas e reforçar seu propósito através do espaço físico. Desde então, vem se especializando em retail design, com projetos de diversos portes, espalhados em todas as regiões do Brasil e também no exterior. São mais de 100 projetos executados, de flagships à quiosques e de estandes a sedes de instituições. Em 2019, seu escritório desenvolveu conceito e design para o estande da franquia de papelaria Magnólia, recebendo o prêmio RDI+ABF de Design de estande, categoria Inovação. No Studio Brava, assume o papel central no funcionamento do escritório, coordenando equipe, gerenciando projetos e se dedicando a uma relação empática e de confiança com seus clientes, o que reflete nas suas soluções assertivas.

“Como mulher negra, encaro as diversas facetas do racismo dentro e fora da sua empresa. Numa profissão elitizada baseada em privilégios, a inserção e ascensão da pessoa negra no mercado é impedida e o reconhecimento inexistente.”

Projetos

A Dufry nos convidou para elaborar o projeto de sua nova loja no Aeroporto Juscelino Kubitschek e buscamos levar inovação para o seu conceito, criando um agradável ambiente de boas-vindas às pessoas que chegam. O projeto para o espaço de 1.300m² contou com enormes desafios, da adaptação do programa no espaço existente, que contava com um pé direito reduzido até o prazo curto para sua implantação, que foram de seis meses da nossa contratação até o início da sua operação. A responsabilidade por um projeto de grande porte, envolvendo exigências e demandas complexas, de cunho internacional, no aeroporto de Brasília, gerenciando oito projetos concomitantes, coordenação da equipe interna e dos complementares assim como o bom atendimento ao cliente a cargo de uma mulher negra periférica, mostra que marcas globais estão um passo à frente da mentalidade local.

A franquia de papelaria Magnólia nos escolheu para traduzir seu conceito em sua estreia na feira da ABF. Optamos por assumir o caráter feminino que a norteia e nos arriscamos a projetar um estande completamente diferente do habitual. A luz quente acolhedora e os microambientes junto à fachada, convidam e estimulam a experiência completa da marca. Esse design recebeu o prêmio de Inovação do RDI (Retail Design Institute), o mais prestigiado da premiação. Um grande feito para uma marca estreante e mais ainda para uma arquiteta e empresária negra que ocupa a posição de comunicar o propósito das marcas de seus clientes combinando seu conhecimento sobre estratégias em modelos de negócio e a criação artística. Dois atributos com reconhecimento negados à população negra.

A Revista Traços faz parte do cenário sociocultural da nossa cidade e foi uma honra levar para o espaço toda a importância desse projeto tão afetivo de caráter acolhedor. Os materiais, as cores, as relações externas e internas da edificação, assim como a relação entre o público e o privado, foram pensadas cuidadosamente para atender com respeito a pluralidade das pessoas que ali frequentam. Como mulher negra ocupando espaços reservados para os brancos, reconhecer as sutilezas da exclusão e poder projetar um ambiente seguro e inclusivo é engrandecedor à alma. A imagem mostra as cores, tão características da Revista Traços, sendo utilizadas nos acessos dos consultórios de atendimento psicossocial assim como na entrada da copa e do banheiro trazendo identidade, movimento e alegria para o conjunto.

ARQUITETAS INSPIRADORAS – KARINY NERY

Imagens: Arquivo Pessoal

Formada pela FAU/UnB em 2018, Kariny Nery é cofundadora do “Coletivo Da Cei Eu Sei”, que se propõem a transformar o espaço público por meio do urbanismo tático e da participação comunitária na Ceilândia. Atuou na gestão dos programas Ações Urbanas Comunitárias e Melhorias Habitacionais com desenvolvimento do projeto de Melhorias Habitacionais em áreas de regularização fundiária na Ceilândia dentro da Companhia de Desenvolvimento Habitacional do Distrito Federal – Codhab/DF (2017 /2019). Atualmente, atua como autônoma e desenvolve projetos de reforma pela Lei de Assistência técnica em São Sebastião/DF pela Codhab/DF.

“Antes de arquiteta, mulher negra e periférica. Acredito que o racismo estruturado em diferentes âmbitos sociais faz com que arquitetas não brancas sejam mais apagadas da sociedade. Com uma rápida pergunta legitimiza sua fala: vocês sabem quem foi Enedina Alves Marques? Muito provável a resposta será não. Não basta apenas reconhecer que existem arquitetas negras, é necessário reconhecer o trabalho exercido por elas e acima disso, reconhecer tudo que impede que essas arquitetas ocupem locais de prestígio. A romantização do empreendedorismo aplicado a escritórios de arquitetura desconsidera as barreiras de oportunidade, ser autônoma não foi uma escolha, foi a saída encontrada após várias negativas em entrevistas de trabalho. Campanhas em dias específicos não são efetivas se de fato as entidades não entenderem a raiz do racismo e criarem uma atmosfera antirracista.”.

Projetos

O primeiro projeto aqui apresentado foi desenvolvido em 2019 pela Lei de Assistência Técnica em São Sebastião/DF. É comum na população brasileira a ocupação de acordo com as necessidades habitacionais da família. Ao todo são quatro edificações dispostas em um lote com cerca de 200m². A edificação em questão possui cerca de 40m² e está no limite do lote. Patologias estruturais, ausência de ventilação e iluminação natural e risco de incêndio na parte elétrica interferem diretamente na saúde da família composta por 4 pessoas. Durante o processo de projeto as soluções adotadas foram apresentadas e discutidas juntamente com os moradores, o processo participativo deverá vir junto com as decisões de técnicas de projeto. A obra custou quase 25 mil reais utilizando os índices da SINAPI -Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil.

Já o segundo projeto é um trabalho de desenvolvimento de identidade visual para a Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal (SECEC) para o Catetinho e MPI-Memorial dos Povos indígenas em 2019. Em parceria com Arq. Daniel Melo, foram consideradas as características da arquitetura de ambos edifícios históricos no Distrito Federal. Optou-se por ressaltar a sinuosidade e as linhas retas e ainda assim formar uma unidade entre eles. A decolonialidade no processo de projeto se iniciasse ao ter uma mulher negra frente ao projeto que visa definir espaços edificados em programação visual. A certeza era evidenciar em cores e formas o espaço que abriga grande parte o histórico da população indígena no Brasil, assim como o Catetinho, erguido por grande parte da população negra nordestina. Conta a história que JK de fato permaneceu muito pouco no Catetinho e ainda assim a rotina dele é mais difundida no espaço do que a rotina da população que ergueu Brasília.  

O terceiro projeto foi iniciado em julho de 2018 e buscou avaliar, juntamente com a comunidade local, as demandas de quem caminha pelos espaços urbanos de Ceilândia, no Distrito Federal, e assim debater e propor intervenções para adequá-los às necessidades das pessoas. Nesse processo, destacam-se as parcerias com o Movimento Popular por uma Ceilândia Melhor – Mopocem e com o Centro de Educação Paulo Freire – Cepafre. Para o diagnóstico dos espaços da cidade, foi utilizado o método traduzido e adaptado no Brasil pela organização Cidade Ativa, de São Paulo. A partir dos resultados, foram desenvolvidas pela equipe propostas de intervenção urbana em regiões com grande afluxo de pessoas nos seguintes bairros da cidade: Ceilândia Centro, Ceilândia Sul e Setor O. Moradores da Ceilândia desde o nascimento, os arquitetos unem a carga afetiva-simbólica com o conhecimento técnico e a vivência diária na cidade. Ceilandenses e arquitetos ao mesmo tempo, entendemos que os estudos no local são importantes, porém, quando feitos com profissionais locais juntamente com a comunidade, as decisões ficam mais conectadas e reais. Equipe: Daniel Melo, Kariny Nery e Olivia Nasser.

ARQUITETAS INSPIRADORAS – STÉFFANNI MARQUES

Imagens: Arquivo Pessoal

Stéffanni Marques é graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Uniplac (2010) e em Design Gráfico pelo Centro Universitário IESB (2017). Começou a trabalhar com obras (um desejo pessoal), atuando na execução de projetos de implementação de instituições bancárias em capitais e cidades esquecidas e distantes do Brasil.

A experiência a fez conhecer uma outra realidade do país: “a de uma população que tinha que andar mais de 300 Km para ter acesso a uma agência. Não levávamos apenas um banco, mas também esperança e cidadania”. Na empresa, Stéffanni integrava uma equipe de profissionais, sendo a única mulher na gestão de mais de 50 homens que, na época, atuaram na implementação de 27 agências bancárias em 18 cidades brasileiras.

No setor público, trabalhou na Central de Aprovação de Projetos (CAP/Seduh). A experiência, segundo ela, foi fundamental para que se tornasse especialista em normativos de edificação e habitação, em nível distrital e federal.

Hoje, à frente do escritório “Ô de Casa Arquitetura”, elabora projetos comerciais e residenciais e executa obras rápidas. “Meu grande desafio como mulher negra é ocupar o lugar que busco, lutando todos os dias na realização de um bom trabalho e por seu reconhecimento. O racismo estruturado parece invisível, mas é real e cruel; nos persegue diariamente. O tempo inteiro somos desestimuladas, inibidas e inseguras a tentar chegar onde queremos. Não temos a cara do `padrão´ elitizado dentro da arquitetura. Basta olhar para os escritórios e repartições e contar a quantidade de brancos e negros presentes e refletir”.

Projetos

Na Casa CRS, modernizamos toda a fachada, trazendo personalidade e aconchego sem alterar o pé direito da casa, uma exigência do proprietário. O projeto foi em parceria com a arquiteta e urbanista Raquel Teodoro.

Na loja Sofisticato, refizemos todo o interior, dando personalidade com grafismos e trabalhando a identidade da marca.

A Agência da Caixa Econômica Federal – Barra, em Salvador, é uma agência modelo e com diversas particularidades. Trata-se de uma obra de mais de 2.870 m², com 3 pavimentos e foi realizada com a agência em pleno funcionamento, com Retrofit, reforma de piso, parede, banheiros e mobiliário novos.

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